Atualmente, observa-se a crescente demanda por painéis de madeira reconstituída, os quais vêm substituindo gradativamente a madeira maciça em diversos usos e aplicações. O surgimento dos diversos painéis de madeira que atende praticamente a todo tipo de mercado se deu através dos avanços tecnológicos ocorridos na indústria madeireira.
Os painéis de madeira reconstituída ganharam certo destaque em relação à madeira maciça. As vantagens destes painéis se deram devido à capacidade de aproveitamento praticamente integral das toras; possibilidade de trabalhar com resíduos; permite a produção de painéis de grandes dimensões, em que o fator limitador consiste nas dimensões das prensas e não das árvores; além de ter mais facilidade de impregnação com produtos repelentes a insetos. Além disso, tem-se a possibilidade de eliminação dos defeitos provenientes da anatomia da árvore (nós, medulas e desvio de grã), conferindo ao produto final homogeneidade muito maior que a encontrada na madeira serrada.
No Brasil, dentre os painéis de madeira reconstituída disponível no mercado, tem-se o
medium density fibreboard - MDF e o
medium density particleboard – MDP. A diferença básica entre ambos é a matéria prima, o MDF é produzido com fibras, enquanto o MDP origina-se de partículas de madeira, fator que atribuem diferenças entre suas propriedades físicas e mecânicas, direcionando assim, usos mais específicos a cada material.
Devido às características do MDF, principalmente de fácil usinabilidade, este se tornou muito desejado pela indústria moveleira, em razão da sua versatilidade e do melhor acabamento que propicia aos móveis e utensílios de madeira em geral. Contudo, o MDP também é destinado à indústria moveleira, porém para a fabricação de móveis retilíneos.
No geral, os painéis MDFs e MDPs vêm ganhando cada vez mais mercado nos últimos anos em relação aos outros tipos de painéis de madeira. Estes produtos foram beneficiados pelas condições macroeconômicas que resultaram em um melhor ambiente para os bens de consumo no país e pela substituição de serrados e compensados. Desta forma, o estudo objetivou analisar o cenário da evolução na produção e consumo dos painéis MDF e MDP no mercado brasileiro no período de 2007 a 2016.
Painéis de Madeira
Os painéis de madeira são produtos compostos de elementos como lâminas, sarrafos, partículas e fibras, obtidas a partir da redução da madeira sólida e reconstituídas por meio de ligação adesiva. Os painéis de madeira são distribuídos em dois grupos, denominados de sólidos (compensados) e reconstituídos (aglomerados, chapas de fibras, OSB e MDF).
Os fabricantes brasileiros de painéis de madeira reconstituída utilizam preponderantemente na confecção de seus produtos, madeira proveniente de maciços florestais plantados (gêneros Pinus e Eucalyptus) e, para completar o mix, resíduos de serraria.
O segmento brasileiro de painéis de madeira e pisos laminados ocupou o 8º lugar no ranking mundial dos maiores produtores no ano de 2015, com produção de 7,5 milhões (m³). Para tal produção, o Brasil conta atualmente com 18 unidades produtoras de painéis de madeira reconstituída, concentradas principalmente no Sul e Sudeste.
Distribuição geográfica das unidades produtoras de painéis de madeira reconstituída.
Painéis MDF e MDP
O MDF é uma sigla em inglês que significa "painel de fibras de média densidade". A norma brasileira NBR 15316-1 (ABNT, 2014), complementa essa definição e menciona que o MDF é um painel de fibras de madeira produzido em processo a seco, com umidade menor que 20% na linha de formação, sob ação de calor e pressão, com adição de adesivo sintético.
A principal característica do MDF é sua excepcional estabilidade dimensional e capacidade de usinagem, tanto nas bordas, quanto nas faces. Dentre outras particularidades, o MDF é considerado um produto homogêneo, uniforme, estável, de superfície plana e lisa que oferece boa trabalhabilidade; alta usinabilidade para encaixar, entalhar, cortar, parafusar, perfurar e moldurar; economia quanto à redução no uso de tintas, tingidores, laca e vernizes; economia no consumo de adesivo por metro quadrado e apresenta ótima aceitação para receber revestimentos com diversos acabamentos.
Todas essas atribuições destinam este tipo de painel principalmente à indústria moveleira e construção civil, nos usos em:
Frontais de portas, frentes de gaveta e outras peças elaboradas, com usinagens em bordas ou faces, como tampos de mesa, racks e estantes. Na construção civil, é utilizado em pisos, rodapés, almofadas de portas, batentes, portas usinadas, peças torneadas como balaústres de escadas, pés de mesa e também em embalagens.
Por sua vez, a sigla MDP significa "painel de partículas de média densidade", as partículas de madeira são ligadas entre si por resinas sintéticas, sob ação de pressão e temperatura, sendo formadas por três camadas, onde as partículas mais finas são depositadas na superfície, enquanto que aquelas de maiores dimensões são depositadas na camada interna. Pode ser utilizada em sua confecção qualquer parte da árvore ou da madeira que seria desprezada, isso é um atrativo grande na área de industrialização, solucionando, em parte, o problema ambiental causado pelos resíduos, além de agregar valor ao produto final.
O MDP é majoritariamente utilizado na fabricação de móveis retilíneos (tampos de mesas, laterais de armários, estantes e divisórias), devido suas características que não permitem uma boa usinagem comparada ao material MDF.
As indústrias brasileiras produziram 102,4 milhões de m³ de painéis MDF e MDP durante o período de 2007 a 2016, deste total 67,5% foi de MDP, os quais foram destinados principalmente a exportação com taxas de 50,4%, enquanto seu consumo interno foi de 18,7% conforme, tabela1. O maior consumo interno do MPF em relação ao MDP pode ser explicado pelas características deste material, pois o mesmo apresenta maior leque de aplicações e maior facilidade de se trabalhar, além do sucesso da estratégia de marketing que posicionou o MDF como “superior” ao MDP em todas as aplicações, a despeito de a principal vantagem do primeiro ser sua capacidade de usinagem.
Produção, importação, exportação e consumo interno de painéis MDF e MDP em Milhões de m³ no Brasil de 2007 a 2016.
PAINEL |
PRODUÇÃO |
IMPORTAÇÃO |
EXPORTAÇÃO |
CONSUMO |
MDF |
33,24 |
1 |
1,5 |
32,9 |
MDP |
69,13 |
0,02 |
50,4 |
18,7 |
Total |
102,4 |
1,2 |
51,9 |
51,6 |
Fonte: FAO (2017), adaptado.
Evolução do MDF e MDP
A produção brasileira de MDF, entre os anos de 2007 a 2016, passou de 1,9 milhões de m³ para 4,2 milhões de m³, aumentando 121%. A produção manteve-se crescente até 2014, onde atingiu o máximo, com 4,4 milhões de painéis MDF produzidos, representando 13,3 % da produção total. Por sua vez, o consumo nacional de MDF, no mesmo período, evoluiu de 2,0 milhões de m³, em 2006 para 3,8 milhões de m³, em 2016, apresentando um incremento de 84,8% . Contudo, o consumo superou a produção até o ano de 2011, dados que justificam as maiores taxas registradas de importações de MDF no período para suprir a demanda interna, a partir do ano de 2012 o consumo interno diminuiu em relação aos anos anteriores, como isso, as taxas de exportações aumentaram.
Evolução da produção e consumo interno de MDF no Brasil de 2007 a 2016.
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Para os painéis MDP o cenário foi diferente, houve decréscimo de 9,7% na produção durante o período, passando de 7,6 milhões de m³, em 2006 para 6,9 milhões de m³, em 2016. O pico da produção de MDP ocorreu em 2008, onde atingiu 7,7 milhões de m³, representando 11,2% do total produzido durante o período. O consumo interno de MDP passou de 1,9 milhões m³, em 2007 para 1,3 milhões m³ no ano de 2016, os quais se mantiveram abaixo da produção em todos os anos, justificando assim, a alta taxa de exportações em relação ao MDF.
Evolução da produção e consumo interno de MDP no Brasil de 2007 a 2016.
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Os painéis reconstituídos MDF e MDP são bastante requisitados no mercado brasileiro. Entretanto os painéis de partículas MDP foram os que apresentaram maior índice de produção total no Brasil de 2007 a 2016, porém com taxas decrescentes no consumo interno no decorrer dos anos, ou seja, este painel vem apresentando potencial no mercado externo, ao contrário ocorreu com os painéis de fibras MDF, onde no geral observou-se forte demanda interna.
Autores
Elesandra da Silva Araujo, UFLA,
Diego Rodrigues Viégas, UFRA, Thaís Brito Sousa, UFLA,
Sebastião Gabriel Souza, UFLA,
Joyce Christina da Silva, UFLA, Verena de Nazaré de Oliveira Reis, UFRA,
Iêda Alana Leite de Sousa, UFLA,
Fábio Akira Mori, UFLA.